quinta-feira, 26 de março de 2009

Cinza

Foram embora. Felizmente nem ficaram para o café. vieram só por causa do Marco. Pobre Marco. Perguntaram a mim onde eu o vi pela última vez. Em pleno século XXI? Deus tenha pena!


Na última vez que vi Marco, era domingo à noite. Na manhã, joguei fora a caixa de leite... quase nova. Meu celular tocou na hora da ducha. Era um dia daqueles em que a gente fica p. da vida. Saí do chuveiro, molhei todo o banheiro, passei as mãos e o lado direito da cabeça na toalha e, finalmente, apertei a tecla verde do maldito telefone celular.


Era Marco. Dizia que tinha saudade e grana fácil. Tudo pra mim. Marco. Dois ou cinco anos sem nos vermos... não sei... com certeza não lembro... e que dane-se isso. Ele fazia questão de falar comigo, tinha um negócio a me propor.


Estudei bastante. A vida inteira. Sempre tive carros dos anos 90. O estudo não compensou o bastante. Nunca vou ter meu Mazda. Nem Porsche, nem Corvette... talvez, com a grana que eu muito poupasse, conseguiria uma pick-up. Não interessa agora. Grana sempre vem bem. Eu até gosto de carros dos anos 90.


Banho acabado. E-mails respondidos. Que droga, Glória! Porque você mora tão longe de mim? Ter você comigo seria a glória. E só. Glória: ela por ela mesma. O único café da cidade que abre aos domingos... tomara que meu café não tenha baratas.


Hugo estava lá. Grande Hugo. Líder de grupo, respeitado até pela polícia. Se você não olha pra ele, vai morrer. Se você olha pra ele, você já está morto. É só levantar a mão. Cumprimentar. Não tomar-lhe tempo. Hugo mandou um daqueles capachos... parecia um tapete, só que com braços. Me deu um recado importante: Marco queria falar comigo. Hugo é um idiota. Mas, se ele lesse pensamentos, nunca mais eu poderia tomar café. No máximo, eu tomaria sopa por um canudinho. Não sou otimista. É melhor que pensem que sou um burro calado, do que confirmarem que sou um burro falante.


Deixei cinco mangos com meu mensageiro. Três pelo café, dois pelo silencioso garçon. Se eu quiser continuar com meu carro, o negócio é embarcar em um táxi. Que cidade feia! Dá pra ouvir tiros. E são dez da manhã.


Engarrafamento. Blitz. Só chego ao centro ao meio-dia. Tem algo errado. Não sei o que é. Chove no calçadão. Cid, dono da banca de jornais quer papo. Ouço suas histórias. Diz que teve dezenas de mulheres. São boas histórias. Só histórias. Almoço em bandejas. Trabalhei tanto para chegar até aqui? Um quase-restaurante de quinta categoria. Eu queria ligar para Glória. Só poderia mandar uma mensagem pelo celular. Meu celular? Lá no café.


De volta. Mais um capacho de Hugo ali. Sozinho. Assim que me viu, correndo me entregou o telefone. Disse que eu deveria abrir mais os olhos se quisesse continuar vivo. Que celular pesado...


Outro táxi. A ala leste da cidade. A cada dia que passa, o céu é mais cinza. São seis da tarde. O motorista limpou minha carteira. A casa de Marco, no terceiro piso. Ele mesmo abriu a porta. Um abraço. Vamos ao seu escritório. Sentou, pôs os pés na mesa. Disse que precisava abrigar dois "colegas" dele. Eram traficantes. Os três. Eu disse que iria pensar. Dei-lhe outro abraço*.


Quando cheguei à esquina, meu celular tocou. "Marco" estava escrito no visor. Ele atendeu e uma bucha de chumbo atravessou a cabeça dele. Voltei ao seu escritório e joguei os dois celulares fora. Marco, sem um pedaço da cabeça, morreu. Minha irmã era apaixonada por um traficante. Morreu de overdose. Odeio traficantes.



(*Foi aqui que troquei os celulares.)

quarta-feira, 25 de março de 2009

A torre de Marfim (1ª parte)

- As boas vindas -

Fazia um belo verão na região que um dia fora chamada França. Mas devemos lembrar que estamos em outros tempos. A combinação química dos céus europeus fazem com que o astro maior pareça uma esfera cinza luminosa. Sua luz, agora acizentada, iluminava as vidraças blindadas da "Torre de Marfim", lar dos estudiosos do mundo todo. Pelo menos um deles. O Dr. Aki, grande reitor da torre recebe em seu escritório uma mensagem sobre o carregamento que estava atrasado. Sobe as escadas até o porto, o campo aberto sobre a torre. Dali, avista o veículo de navegação aérea, referido na mensagem.

O veículo larga delicadamente, por cabos, uma caixa grande, metálica, com um símbolo amarelo e uma figura caricata com forma humana. Dr. Aki coloca o cartão no identificador da caixa. Os "carregadores" abrem as portas e começam a abrir as cápsulas. Nelas estavam os sonolentos "novos estudantes".

- Para a câmara de temperatura, rápido. - gritou o doutor. E todos seguiram para a câmera.

Ali estavam 16 jovens. A câmara já havia os escanerizado. Estavam limpos. Eram humanos, não sub-raça. Dentre os jovens que ali estavam, o doutor centrou os olhos em um certo Chris. Chega, finalmente a parte da entrevista particular. Após a identificação de cada membro do grupo, Dr. Aki faz questão de entrevistar o jovem primeiro.

- Bem, meu jovem - inicia o Dr. - de onde veio mesmo seu carregamento?

- Dr. Aki, não é? Imaginei que a Torre soubesse de onde eles vêm.

- Desculpe... é da Torre de Bronze, não? Você sabe como era o nome do país onde hoje está a Torre de Bronze?

- Eu até gosto de estudar história, doutor... Mas pra falar a verdade, não tenho certeza. Me disseram que era um tal "Brasil"... ou "Peru"... eu simplesmente não sei. Não devo ser tão inteligente quanto pareço.

- Me conte mais uma coisa... e isso é sério! Você sabe porque uma região como aquela precisou de uma Torre? Será que foi o mesmo motivo desta região?

- Doutor, decerto todas foram. O que eu sei é que os museus viraram ruínas. As escolas viraram presídios para menores. Nossas músicas, nossa arte, nossa cultura... tudo foi destruído pelos... pelos...

- "Primatas"? - arriscou completar o doutor.

- Serve. E, pra fugir desse sistema, o Professor Arquimedes usou uma outra Torre como base. Eu tive de passar no exame de aptidão para ser aceito. Mas sabe que não havia muita concorrência? Fiz o exame certo de que passaria.

- Ótimo, meu jovem. Me fale sobre as coisas que gostava de fazer lá.

- Rock, doutor. Nunca me vendi ao controle da mídia no meu país. Eu vi aqueles primatas se armando... todos tinham televisão na cabeça. Bisbilhotavam a vida dos outros pela televisão. deixavam de viver suas vidas por isso. Eu nunca fui assim. Ouvia meu rock sozinho... ou com uma garota que eu simplesmente adorava. Nós falávamos de arte, de poesia, das coisas que sentíamos.

- Isso antes da Torre?

- Não... ela já estava construída.

- E as coisas fugiram do controle?

- Como em todo o mundo, doutor. Eu cheguei em casa e não havia ninguém... ela estava destruída por dentro. Nem minha mãe, nem minha irmã... Papai já estava na Torre do norte e não havia previsão de retornar. Foi aí que cheguei à conclusão... elas foram levadas por aqueles animais!

- Você não precisa falar disso se não quiser. Se preferir, pode me contar o que pretende fazer aqui. Tem algo especial que gostaria de aprender? Sabe de quantas academias estou falando, não?

- Eu queria aprender esgrima.

- Esgrima? Mas eu pensava que você era um admirador das artes...? Você sabe que para isso terá de tentar o alistamento?

- Tem que haver outro jeito, doutor. Sem alistamento. Na Torre de onde vim, não havia esgrima. Aqui não é onde um dia foi a França? Eu quero aprender a lutar isso.

- Não pretende um tipo de arte marcial? Temos bons professores...

- Sem ofensa, mas o doutor me ouviu muito bem. Nunca se sabe quando vou precisar lutar.

- Oh, não, não fique preocupado. Este Torre é muito segura. Bem, o tempo que eu tinha para entrevistá-lo acabou. Suas aulas começam amanhã. Espero que goste da Torre de Marfim.

- Está certo, doutor. Vou tentar dormir.

Chris levantou-se, apertou a mão do Dr. Aki com firmeza e dirigiu-se ao alojamento masculino para alunos. A próxima nova aluna era Julia. Ela passou com a cabeça baixa por Chris. Ele gostou do que viu: uma moça morena, de cabelos longos e lisos. Seus olhos eram de um castanho muito claro. A porta da sala do Dr. Aki abriu. Ela entrou sem olhar para trás, bem diferente do jovem, que quase tocava com o nariz na parede final do corredor. Desajeitado, mas sem perder a pose, ele se recompõe e continua seu caminho para o alojamento. Olhou por uma das janelas do corredor e sentiu saudades do Sol vermelho. Ali, ele era cinza.

(Continua, é claro.)

terça-feira, 24 de março de 2009

Começando...

Pra começar, meu muito obrigado ao amigo Andrezinho por entrar nessa comigo! Aqui eu quero detonar!



Por isso, vou iniciar a minha postagem neste blog com uma repostagem... e assim a banda toca. Os contos que valem a pena eu trago pra cá. Os que não valem muito a pena... eu deixo no http://robertobier.blogspot.com/ .



Espero que gostem, pois eu pretendo começar com o pé direito.